
Fé (do grego fides, fidelidade e do grego pistia)  é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que  este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste  algo ou alguém.
A fé se relaciona de maneira unilateral com os  verbos acreditar, confiar e apostar, isto é, se alguém tem fé em algo,  então acredita, confia e aposta nisso, mas se uma pessoa acredita,  confia e aposta em algo, não significa, necessariamente, que tenha fé. A  diferença entre eles é que ter fé é nutrir um sentimento de afeição, ou  até mesmo amor pelo que acredita,confia e aposta.
A fé se  manifesta de várias maneiras e pode estar vinculada a questões  emocionais e a motivos nobres ou estritamente pessoais. Pode estar  direcionada a alguma razão específica ou mesmo existir sem razão  definida. Também não carece absolutamente de qualquer tipo de evidência  racional.
A Fé no Espiritismo
"Fé inabalável só é a que pode encarar de frente a  razão, em  todas as épocas da humanidade"
Allan Kardec.
 
A  Doutrina Espírita apresenta uma nova maneira de ver a Fé. Este é um   ponto  que julgamos importante, pois enquanto as religiões procuram  manipular  as  consciências, incutindo idéias de medo, impondo  comportamentos,  reduzindo  consideravelmente o livre arbítrio, o  Espiritismo deixa o pensamento  fluir  livremente, o mais natural  possível para que o indivíduo possa  demonstrar toda  sua identidade e  autenticidade. 
 
A Fé raciocinada  deixa de possuir conotação de algo obtido por uma  graça, por  um  mistério que não pode ser explicado. Ela, portanto, difere de tudo o   que  caracteriza a Fé religiosa, porque baseia-se na busca do  entendimento e  do  discernimento. A Fé religiosa firma-se nos dogmas  que definem as  religiões. A Fé  Espírita usa a razão e, por isto, pode  criticar e examinar o objeto da  Fé. 
 
Há  uma lucidez maior dos conhecimentos adquiridos e uma melhor  captação  de  conhecimentos novos. A Fé Espírita é efeito e não causa. O indivíduo  que  a  possui já experienciou no passado vivências, aprendizados,   etc. que  hoje lhe transmitem toda uma certeza e confiança. Há uma visão  global,  holística, das coisas; ou, porque não dizer, uma visão  "guestaltica" do  todo. 
 
Para que se  obtenha esta compreensão geral, aumentando-a  paulatinamente,  torna-se  necessário que a nossa inteligência esteja ativa, para podermos    exercitá-la através da vontade. Com a inteligência teremos facilidade de    adquirir conhecimentos novos e tornar presente ou consciente os já   adquiridos.  Estes, serão sempre assoalho para o apoio de novas  informações; assim, o  poder  de análise e de síntese vai crescendo de  forma que a cada passo o  indivíduo  tenha nova compreensão, novos  "insights", ou lampejos cada vez mais  claros. 
 
Assim  é a Fé Espírita, com características próprias e especiais, que a    diferencia de qualquer outra Fé. A Fé Espírita não é reducionista, não   bloqueia  a vontade nem a expressão do ser humano; ao contrário, amplia a  vontade e  a  capacidade de expressão. O indivíduo fica livre para a  escolha e com  menos  possibilidades de ser manobrado ou manipulado. 
 
Daí  Allan Kardec dizer que a Fé Espírita "não pode ser prescrita ou   imposta,  por aquele que a tem, ninguém a poderá tirar e àquele que não a  tem  ninguém  poderá dar". Diz o Codificador que "a Fé é sinal evidente  de progresso".  O  Espiritismo, como Doutrina reencarnacionista e  evolucionista, tem na sua  Fé uma  conseqüência desse progresso que o  indivíduo vai pouco a pouco  conquistando,  vivenciando. O progresso vai  facilitando melhores elaborações em  estágios sempre  renovados. 
 
Portanto,  Fé não se consegue como que "por um passe de mágica". Ela é  a   certeza, a segurança e a confiança já conquistadas e que num dado   momento o  indivíduo experiência. A Fé está relacionada a obras, assim,  uns possuem  mais  Fé, outros menos. Para a realização das obras - e das  conquistas - é  necessário  estudo e trabalho que resultam em  experiência. O que se pode afirmar é  que  haverá sempre uma nova tarefa  a ser executada, a nos provar, a nos  testar e,  assim, vamos obtendo  maior firmeza na execução, ou seja, maior Fé. 
 
Foi  dito, "a fé é mãe da esperança e da caridade", o que é facilmente    compreensível, porque todo aquele que a possui, conforme a Doutrina   Espírita,  apresenta um sintoma de que já conquistou estágios  importantes e, como  tal, ela  já está incorporada ao seu acervo  tornando-se natural a prática do amor e  da  caridade. 
 
A  importância do Espírita ter esse entendimento da Fé, o levará a   vivenciar  melhor a atual existência, o aqui e agora, e a pautar todos  os seus atos  dentro  de uma moral e de uma ética elevada. O Espiritismo  facilita a reparação  dos  erros numa experimentação consciente e nisto  está o fortalecimento da  Fé. Todo  este entendimento nos conduzirá à  certeza, à confiança e à esperança,  proporcionando-nos encarar de  frente a razão em todas as épocas da  humanidade. 
Texto sobre a Fé no Espiritismo de Otaviano Pereira da Neves.