Seguidores

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Caridade desinteressada nas advertências do Cristo


       
         A caridadedesinteressada nas advertências do Cristo

       Jesusexortou-nos que fôssemos perfeitos em tudo o que fizéssemos, fazendo as coisasque nos competem da melhor maneira possível, sem esquecer de dar de graça ao próximoo que de graça recebemos.

       Jesusjá havia repisado todas as advertências que ele julgara mais necessárias aosdiscípulos e que deviam constituir a base de seu ensino, direcionado a todosque o quisessem seguir.

         Naparábola do julgamento, em que o Divino Senhor separa bodes de um lado eovelhas do outro, deixara claro que o único caminho capaz de resolver oproblema da paz entre os homens era o da caridade porque “fora da caridade nãohá como crescer.”

       Insistiranisso com a bela imagem expressa na recomendação de que não deixássemos que amão esquerda soubesse o que a direita estava entregando ao próximo. “Não saibaa mão esquerda o que dá a vossa mão direita!” Significando isso que nãoficássemos murmurando, arrependidos, sobre todo o bem que houvéssemos feito aonosso semelhante. Tal qual o caso, que Machado de Assis relata,  do comercianterico e do mujique  nas terras geladas da  Rússia.  “Quando ocavalo disparou, o comerciante pensou que fosse morrer. Nada  retinha noseu galope. Se caísse fatalmente morreria. A cabeça bateria nas pedras;inevitáveis o traumatismo craniano e  a morte ao final. Eis senão quando surgeum mujique que, corajosamente, se antepõe ao cavalo, segura-o pelo cabresto eo  faz parar de correr. Foi um milagre! O comerciante, agradecido, tira dacarteira uma nota de mil rublos e, agradecendo muito, passa-a ao camponês. Ocoitado quase caiu de susto. Nunca vira uma nota como aquela! E saiu pulandofeliz, louco pra chegar em casa e mostrar pra mulher e pros filhos a dádivarecebida. Mil rublos! Uma fortuna!

       Ocomerciante, ao vê-lo partir feliz, começou a pensar. “Acho que dei dinheirodemais. Mil rublos? Por que não 500? Ou 200? Talvez o pobre ficasse feliz com100. Ou menos. Quem sabe, 10?... Ele ganha cinco rublos por dia... É... achoque  acabei dando dinheiro demais.”

       Issocostuma acontecer com a gente. Na hora do entusiasmo a gente dá generosamente.Depois se arrepende. E começa a sofrer. Aconteceu comigo. Ninguém me convidavapara ser padrinho de casamento. Meu irmão era padrinho de todo mundo. Eu jáestava acostumado. Casamento? Já sei: meu irmão estará lá. Padrinho de novo. Eujá estava ficando complexado. Será que eu não sirvo para padrinho de casamento?Surpresa! Um dia apareceu um. Fiquei feliz. E prometi logo ao noivo: “dou-teuma geladeira!”.

       Gente,uma geladeira naquela época era um presentaço. Hoje, não. Depois que surgiu a CasaBahia, ela desmoralizou o presente. Qualquer um pode comprar lá uma geladeirapagando 20 reais por mês. Mas naquela época não.

       Mearrependi logo. Mas tive que cumprir o prometido. E tome sofrimento.

          Maisou menos como diz Arthur Riedel, no seu livrinho admirável: “á pessoas queacreditam que quem dá aos pobres empresta a Deus, mas costumam querer saber oque Deus vai fazer com o empréstimo”. Um cidadão pede um real para comprar umpão. A gente dá, mas logo adverte: “Olhe lá, estou dando para você comprar opão. Não vá tomar cachaça não, ouviu?”

      “Aoque se sabe, depois de Jesus não apareceu ninguém que ressuscitasse mortos”

        Outroshá que dão uma oferta à Igreja, ou a uma instituição beneficente, e compram umbilhete de loteria, pensando que vão ter a recompensa divina abocanhando oprimeiro prêmio.

            Outrosdeixam para dar na hora da morte, quando não têm mais como usufruir da fortunaacumulada, e a morte está batendo à porta. Fazem, então, um testamento deixandotanto para o Hospital, tanto para o Asilo, tanto para o Orfanato, tanto para aAPAE.  Deixam, porque não podem levar.

             János havia Jesus advertido, também, sobre a presença, sempre, em todos osmomentos da história, dos chamados falsos cristos e falsos profetas que, utilizando-seda boa fé das pessoas, conduzem-nas para a decepção e a desventura. Não apenasos que se servem da religião, conduzindo pessoas como rebanhos inconscientespara aventuras nefandas ou crimes inimagináveis. Falsos cristos e falsosprofetas, também, na filosofia, na ciência, na política, na indústria, nocomércio, na educação, na saúde, em toda parte. Sempre os houve. Exploradores eexplorados. Por isso nos recomendou fôssemos prudentes como as serpentes e nãoacreditássemos em todos os profetas, verificando antes se eles eram profetas deDeus, pela análise de suas obras.

             Exortou-nosque fôssemos perfeitos em tudo o que fizéssemos. Tal qual o Pai, que é perfeitoem tudo em que o seu poder se manifesta.

          Essaperfeição a que Jesus se referia é uma perfeição relativa. Significa fazermostudo o que nos cabe fazer da melhor maneira possível. Não deixarmos nada semfazer, ou fazer as coisas pela metade, por causa da pressa ou de outro motivoqualquer. É pra fazer? Então façamos da melhor maneira que nós sabemos. Demos omelhor de nós. Melhor, nós não saberíamos fazer. É isso que ele quer de nós.

          Comocoroamento, a recomendação final: “restituí a saúde aos doentes, ressuscitai osmortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamenterecebestes”.

             Umparêntese sobre o “ressuscitai os mortos”. Ao que se sabe, depois de Jesus nãoapareceu ninguém que ressuscitasse mortos. Parece que Pedro conseguiu isso umavez. Houve, sim, depois deles casos de pessoas aparentemente mortas que, derepente, sem que ninguém participasse do fato, voltassem à vida. A literaturaregistra alguns casos. Interessante é o que aconteceu com uma figura conhecidanos meios literários. O Abade Prévost, autor do polêmico livro “Manon Lescaut”,já estava na mesa para o trabalho de necropsia, quando, sob o bisturi docirurgião, readquiriu as energias vitais e acabou se salvando.

               “Ninguémpode fazer da mediunidade profissão, porque ninguém é dono dos espíritos”

                Outrocaso patético é o do célebre poeta Scotto. Ele era cataléptico. Foi enterradovivo durante uma crise, na ausência do servo que sabia de sua doença. Tirado dasepultura, seus familiares verificaram que morrera sufocado, tendo mordido,desesperadamente, os lábios.

               Demorte igual, morreram médicos, poetas, reis e imperadores, sem falar dossupostos mortos enterrados apressadamente nos horrores das epidemias e dasguerras.

               Emmanuel,em Renúncia, nos fala sobre o drama que foi, na França do Século XVII, achegada da varíola aos lares franceses. Não se esperava a pessoa morrer.Enterrava-se logo com medo de a doença alastrar. Muita gente foi enterradaviva.

              Kardecaproveitou a recomendação de Jesus e, no mesmo capítulo XXVI, tratou de preces  pagas, lembrando a advertência do Mestre sobre o mau hábito dosescribas que, a pretexto de orar, devoravam as casas das viúvas.

            Tratouainda do episódio da expulsão dos que vendiam coisas dentro do Templo, numdesrespeito flagrante à Casa do Senhor.

          Masa grande mensagem do capítulo é para o comportamento dos médiuns. Nenhummédium, de nenhuma forma, seja por motivo que for, deve obter vantagemfinanceira ou social do dom que Deus lhe deu para utilização em seu trabalho afavor da Humanidade.

          Ninguémpode fazer da mediunidade profissão. Por uma razão simples. Ninguém é dono dosespíritos. Eles são independentes. Vêm quando querem e quando podem. Não háforça humana capaz de garantir uma comunicação. Foi graças ao mediunismoprofissional que proliferaram casos de fraudes que tanto mal fizeram àdivulgação e aceitação da Doutrina.

             Humbertode Campos conta-nos a história dramática de um médium brasileiro. 

       Azariasera mecânico de automóvel. Grande mecânico e notável médium. Como sempreacontece, em torno de médiuns assim, nasce a adoração e abundam freqüentadoresinsaciáveis. Pessoas interessadas no favor dos espíritos envolvem o médium e oelogiam, e presenteiam, e bajulam e acabam por deles se tornarem donos. Queremutilizá-los, por isso, a qualquer hora. Vai-se a disciplina. Com Azarias deu-seque os tais “irmãos”, para tê-lo permanentemente à sua disposição, tiraram-nodo emprego e lhe fizeram um salário. Cada irmão comparecia com uma parcela dosalário ajustado. No princípio funcionou. Com o tempo, um pára de contribuir;depois outro; após, mais outro e daí a pouco está Azarias sem a ajuda dospatrocinadores e sem o emprego que perdeu. As dificuldades, rápido, batem àporta. Falta comida em casa. A luz, não paga, se apagou. O aluguel também. E asdificuldades se instalaram. Até que Azarias aceita o primeiro pagamento. Depoisoutro, mais outro. Em pouco tempo a desmoralização e o abandono. Os próprioscompanheiros que tanto o bajularam antes e que, afinal, foram os principaisresponsáveis pela sua derrocada, são os que agora dele falam malabertamente.  A obsessão se instala. E o fim amargo se aproxima.

        Por ArthurBernardes de Oliveira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...